sábado, 5 de janeiro de 2013

Origens do Manejo

ERGOTOPÔNIMO (nome surgido de atividades ligadas ao trabalho humano)

Igreja N.S. Aparecida em Manejo.
A região conhecida hoje como Manejo, fica situada em extensa várzea, formada depois que o Rio do Peixe se livra da estreita formação rochosa que atravessa após receber pela margem esquerda as águas de seu principal afluente, o Rio do Salto, que nasce nos contrafortes da Serra de Ibitipoca, cortando o Parque Estadual de Ibitipoca no sentido norte - sul.
Essa grande baixada, começa acima da localidade de Ponte Nova, onde a estreitura permitiu a construção de sólida ponte e se prolonga até próximo a Orvalho, indo de novo se estreitar, no local onde a E.F.C.B. fincou sua Ponte sobre o Rio do Peixe e abriu um túnel, alargando-se logo abaixo, na barra do Ribeirão Grão Mogol, próximo à Valadares, estreitando-se rio abaixo ao cortar a Serra de Lima Duarte em seu ponto mais a leste, abaixo da ponte da BR 267 sobre o Rio do Peixe.

Essa região, plana e úmida, ideal para cultivo de cereais, foi repartida oficialmente em 1781 em ato do Governador e Capitão General de Minas Gerais, Dom Rodrigo José de Menezes, com a legalização dos vários posseiros, entre eles João Gonçalves Bahia (possível origem da localidade do mesmo nome), José Delgado Motta (esposo de Inácia Maria D'Assunção Delgado e pai de Francisco Delgado Neto), João Antônio de Paiva, Domingos Fartes de Almeida, e Manoel Antonio de Almeida Ramos, dentre outros.

Manoel Antonio de Almeida Ramos, era filho de João de Almeida Ramos, e neto de Antonio de Almeida Ramos que era português de nascimento radicado em Barbacena. Tinha a patente de Alferes, sendo em 1791 aquinhoado com a de Tenente, era proprietário de várias fazendas e nelas exercia as atividades comuns àquela época, como mineração e criação de animais. De Barbacena veio para o Sertão do Rio do Peixe, onde, à margem esquerda deste fez construir uma sede de fazenda, dedicada à lavoura.

Essa fazendas eram conhecidas como "de manejo", do verbo manejar. O termo servia para diferenciar os escravos que se dedicavam à lavoura e criação dos demais escravos, empregados na mineração, sendo aplicado genericamente também às fazendas que se ocupavam de lavoura. Dessa forma passou a designar a fazenda, situada na margem esquerda do Rio do Peixe, defronte à hoje localidade de Manejo. A extensa várzea, defronte à sede, passa assim a ser chamada de "Várzea dos Almeidas"

O Tenente  Manoel Antonio de Almeida Ramos foi sucedido por pouco tempo na direção da propriedade por seu filho João Evangelista de Almeida Ramos, mais conhecido como Barão de Santa Bárbara.
João Evangelista, radicou-se posteriormente em Santa Bárbara do Monte Verde, passando propriedade a seu filho Alferes João Batista de Almeida Ramos, que morrendo prematuramente, deixaria a propriedade a seus filhos ainda menores (um deles Raimundo Guimarães), fazendo com que a Fazenda fosse conhecida mais tarde como Fazenda dos Òrfãos.

A propriedade foi posteriormente vendida ao Capitão João de Deus Duque Neto, Francisco Delgado Duque, sendo por fim, adquirida por Joaquim Cândido da Silva, pelo que ficou hoje conhecida como Fazenda dos Cândidos. Defronte à sede, no fim do século XIX, na margem esquerda do Rio do Peixe, se ergueu uma capela dedicada a São Joaquim e em seu entorno, um cemitério. Certamente uma capela votiva, numa época de grandes epidemias, e que teve grande movimentação, haja visto que em 1930 aí se realizavam festas, como relatado nos jornais da época, indicando que a Várzea dos Almeidas era bem povoada.

Com a abertura do ramal ferroviário da Estrada de Ferro Central do Brasil, em vista da localidade oferecer ligação com Boa Vista (atual Pedro Teixeira) e Quilombo, atual (Bias Fortes), além de ser ponto de ligação com o sul (Santa Bárbara do Monte Verde e Rio Preto) decidiu-se ali construir uma estação, para carga e descarga de mercadorias e passageiros, na margem direita do rio, oposta à da antiga Fazenda do Manejo. Inaugurada em 1926, foi logo rodeada de casas de comércio, casas de Turma da E.F.C.B., casas de morada, ranchos de pouso, no povoado que passa a se chamar também Manejo, tal como o conhecemos hoje. A partir daí, a estrada de ferro passa a ser a referência e o nome Várzea dos Almeida cai no esquecimento. Mais tarde, sobre uma colina singular, situada no meio da Várzea, e próxima à estação, ergue-se uma capela dedicada à Nossa Senhora Aparecida, hoje templo principal do povoado, sendo a antiga capela de São Joaquim perdido sua importância, simbolizada na transferência de seu pequeno sino à nova capela.
Visita do ator Lima Duarte em 02-11-1976. Ainda se vê a antiga estação da EFCB.
Manejo situa-se à margem direita do Rio do Peixe, a nove quilômetros de Lima Duarte e a sete de Orvalho, pela BR 267.

A referência à Manejo da presença de inconfidentes em fazenda situada na região não tem base histórica, e se o tivesse teria sido alvo de denuncia por parte de José Ignácio de Siqueira, personagem que entrou para a História ao denunciar o Coronel José Aires Gomes e morador de Ibitipoca. Esse vivia de ensinar meninos a ler e percorria na intimidade as fazendas da região. Se houvesse inconfidentes ou colaboradores ou simpatizantes destes na região da Várzea dos Almeida, teria-os denunciado!

A outra referência diz respeito a acampamento de tropas comandadas pelo Duque de Caxias em 1842, no local! Também carece de base histórica! As tropas de Caxias, segundo roteiro documentado e publicado vieram de rio Preto pela Serra Negra, acamparam próximo ao Cemitério de Olaria e daí seguiram para a Vila do Rio do Peixe, acampando no Ribeirão de Santana. Não se tem notícia de acampamento na região hoje conhecida como Manejo, ainda que por aí, logicamente tenha que ter passado, pois era caminho.

As fotos foram compartilhadas de Raimundo P. Netto e Ronisch Baumgratz