quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Um cascavel no Exército, o visconde e o artista...



Minha primeira experiência fora de Lima Duarte foi passada  um ano e dezenove dias em Juiz de Fora! Jovem, 18 anos, apresentei-me ao Serviço Militar e fui selecionado, indo servir no Décimo Sétimo Batalhão Logístico, com quartéis no Bairro Fábrica e ao lado do Museu, no Mariano Procópio. Um belo prédio antigo, comprido e alto, assoalhado e com muitas janelas seria minha casa, "laranjeiro", como tantos outros que de fora de Juiz de Fora vieram...
Conversa vai, conversa vem, vamos aos poucos descobrindo as origens dos desconhecidos membros da companhia , que sairá dali grupo de amigos: Rio Pomba,(gêneros em desalinho) Divino (que se falasse "de Carangola", dava briga), Leopoldina, Muriaé, Matias Barbosa (quase sempre só "Matias"), Tombos, Tabuleiro(que não podia  nunca ser "do Pomba"), Bicas(na verdade São Manoel)... Fora os procedentes de bairros e distritos de Juiz de Fora, muitos...

_ Mas e tu? De onde é? pergunta um vizinho, carioca do brejo...
_ Sou de Lima Duarte, respondo.
_ Ah, é cascavel! kkkk ..... E o apelido já pega...
_ Lima Duarte? Onde fica? _ retruca outro.
_ Perto daqui, pro Sul de Minas, respondo....
_ Ah, aquele artista da Globo, né, eu sei, arrisca outro.
_ Mas por que cascavel?
_ O Lima Duarte nasceu lá?...

Nessas perguntas muito de nossa identidade, mais ainda de nossa História...

Desde criança ouvia casos de onças, assombrações e cobras! As cobras, eram tantas que apareciam em todos os lugares, dormindo no meio das lenhas, dentro do quentinho dos fornos, saindo dos cupins ou dos buracos de tatu. Eram ditas como traiçoeiras, perigosas, por isso deveriam ser mortas. Morrer "ofendido de cobra" era coisa comum por aqui, fosse cascavel, jararaca ou urutu... Muitos ganharam o apelido de Cascavéis por sua qualidades parecidas com a do réptil...
A fartura de cobra era tanta que virou artigo de exportação: de trem, seguia de Lima Duarte para o Instituto Butantã um vagão cheio de caixas de cobras, sempre na rabeira, caso descarrilasse...
E dizem que um descarrilou, enchendo de lima duartinos(ops, cascavéis) o terreno perto de Igrejinha...
Assim mais a fama aumentou, a ponto de cascavel ficar sinônimo de lima duartino.

A "Terra do Cascavel" nasceu Dores do Rio do Peixe, sendo parte da Comarca do Rio das Mortes (atual São João Del Rei, que em 1791 foi dividida, ficando o nosso território  pertencendo à Vila de Barbacena. O Dores é uma referencia à Padroeira Nossa Senhora das Dores, e o Rio do Peixe, ao principal curso d'água da região, vertendo águas para a  Bacia do Paraíba do Sul. Em 1839, o arraial virou vila sede de Distrito, passo importante para emancipar-se anos mais tarde. Em 03 de Outubro de 1881, após muita relutância de políticos de Barbacena, finalmente emancipa-se, tornando-se o Município de Rio do Peixe. Até aí, nada de Lima Duarte!!

A Lei rezava que cabia ao Presidente da Câmara do Município de origem (Barbacena) proceder a escolha dos vereadores do novo município, dar-lhes posse e instalar a nova câmara municipal. Para isso, colocava como condições a existência de um prédio decente para a Câmara e Cadeia e outro para uma escola pública de Primeiras Letras, exigênciasprontamente atendidas.A última das exigências a ser cumprida foi a eleição dos sete primeiros vereadores do município do Rio do Peixe, ocorrida em 7 de setembro de 1884, dois anos, onze meses e quatro dias dias depois da criação do município por lei e ainda assim, com muita pressão dos líderes rio peixenses sobre a Presidência da Assembléia Provincial em Ouro Preto. Faltava apenas a instalação do município. Apesar de satisfeitas as exigências legais, Barbacena retardou ao máximo a instalação do município. Era Presidente da Câmara de Barbacena o sr. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada III ou "O senador", casado com Dona Maria Adelaide Feliciana de Lima Duarte, irmã do Barão e depois Visconde de Lima Duarte.

Barão e Visconde de Lima Duarte, era o título dado por Dom Pedro II ao médico e político brasileiro José Rodrigues de Lima Duarte, nascido em 1826 em Barbacena e falecido aos 03 de dezembro de 1896 no Rio de Janeiro. Era filho de Feliciano Coelho Duarte Badaró e de Constança Emídia Duarte Lima. Formou-se em Medicina em 1849, clinicando por muitos anos em Barbacena.  Como médico tornou-se exemplo de caridade, dedicação e abnegação, fazendo da profissão um verdadeiro sacerdócio.
Dr. José Rodrigues de Lima Duarte
Líder do Partido Liberal em Minas Gerais, era considerado um homem de coração generoso e bondoso, muito popular e querido pelos correligionários e respeitado pelos adversários filiados ao Partido Conservador. Dotado de extrema simplicidade era celebrado como homem simples, afável, consagrado às causa do povo, sempre celebrado por seu caráter reto e humano.
Entrou para a atividade política em 1854, sendo sucessivamente  Deputado Provincial e Deputado Geral Presidiu a Câmara Municipal de Barbacena de 1861 a 1881 e foi Presidente da Câmara dos Deputados de 1882 a 1884, além de Senador do Império de 1884 a 1889. De 1880 a 1882, foi Ministro da Marinha do Brasil. Por ser mineiro e nunca ter servido à Armada, era chamado de "Ministro da Marinha do Mar de Espanha".
Emancipado o Municío do Rio do Peixe aguardava sua instalação desde 1881.Sem explicações para tanto atraso, em 30 de outubro de 1884, vota-se a lei que simplesmente concedia a vila do Rio do Peixe o título de cidade, mudando seu nome para Cidade de Lima Duarte. Sessenta dias depois, em 29 de dezembro de 1884, o senhor Andrada vem à Lima Duarte, e instala o município e dá posse aos vereadores eleitos. Uma simples mudança de nome , remove todas as resistências barbacenenses e tira um atraso de três anos e dois meses no nosso processo de emancipação de Barbacena, dando ao reduto de conservadores um nome liberal...

Dezenas e dezenas de anos mais tarde, Ariclenes Martins,  um jovem ator em começo de carreira, ouve de produtores que seu nome não é apropriado para um artista. Em conversa com sua mãe, que tinha orientação espírita, essa sugere-lhe o nome do Dr. Lima Duarte, seu espírito guia de luz, para seu nome artístico..

Assim nasceram os "Cascavéis", a "Lima Duarte" e o "Lima Duarte"! Nessa ordem...














sábado, 5 de janeiro de 2013

Origens do Manejo

ERGOTOPÔNIMO (nome surgido de atividades ligadas ao trabalho humano)

Igreja N.S. Aparecida em Manejo.
A região conhecida hoje como Manejo, fica situada em extensa várzea, formada depois que o Rio do Peixe se livra da estreita formação rochosa que atravessa após receber pela margem esquerda as águas de seu principal afluente, o Rio do Salto, que nasce nos contrafortes da Serra de Ibitipoca, cortando o Parque Estadual de Ibitipoca no sentido norte - sul.
Essa grande baixada, começa acima da localidade de Ponte Nova, onde a estreitura permitiu a construção de sólida ponte e se prolonga até próximo a Orvalho, indo de novo se estreitar, no local onde a E.F.C.B. fincou sua Ponte sobre o Rio do Peixe e abriu um túnel, alargando-se logo abaixo, na barra do Ribeirão Grão Mogol, próximo à Valadares, estreitando-se rio abaixo ao cortar a Serra de Lima Duarte em seu ponto mais a leste, abaixo da ponte da BR 267 sobre o Rio do Peixe.

Essa região, plana e úmida, ideal para cultivo de cereais, foi repartida oficialmente em 1781 em ato do Governador e Capitão General de Minas Gerais, Dom Rodrigo José de Menezes, com a legalização dos vários posseiros, entre eles João Gonçalves Bahia (possível origem da localidade do mesmo nome), José Delgado Motta (esposo de Inácia Maria D'Assunção Delgado e pai de Francisco Delgado Neto), João Antônio de Paiva, Domingos Fartes de Almeida, e Manoel Antonio de Almeida Ramos, dentre outros.

Manoel Antonio de Almeida Ramos, era filho de João de Almeida Ramos, e neto de Antonio de Almeida Ramos que era português de nascimento radicado em Barbacena. Tinha a patente de Alferes, sendo em 1791 aquinhoado com a de Tenente, era proprietário de várias fazendas e nelas exercia as atividades comuns àquela época, como mineração e criação de animais. De Barbacena veio para o Sertão do Rio do Peixe, onde, à margem esquerda deste fez construir uma sede de fazenda, dedicada à lavoura.

Essa fazendas eram conhecidas como "de manejo", do verbo manejar. O termo servia para diferenciar os escravos que se dedicavam à lavoura e criação dos demais escravos, empregados na mineração, sendo aplicado genericamente também às fazendas que se ocupavam de lavoura. Dessa forma passou a designar a fazenda, situada na margem esquerda do Rio do Peixe, defronte à hoje localidade de Manejo. A extensa várzea, defronte à sede, passa assim a ser chamada de "Várzea dos Almeidas"

O Tenente  Manoel Antonio de Almeida Ramos foi sucedido por pouco tempo na direção da propriedade por seu filho João Evangelista de Almeida Ramos, mais conhecido como Barão de Santa Bárbara.
João Evangelista, radicou-se posteriormente em Santa Bárbara do Monte Verde, passando propriedade a seu filho Alferes João Batista de Almeida Ramos, que morrendo prematuramente, deixaria a propriedade a seus filhos ainda menores (um deles Raimundo Guimarães), fazendo com que a Fazenda fosse conhecida mais tarde como Fazenda dos Òrfãos.

A propriedade foi posteriormente vendida ao Capitão João de Deus Duque Neto, Francisco Delgado Duque, sendo por fim, adquirida por Joaquim Cândido da Silva, pelo que ficou hoje conhecida como Fazenda dos Cândidos. Defronte à sede, no fim do século XIX, na margem esquerda do Rio do Peixe, se ergueu uma capela dedicada a São Joaquim e em seu entorno, um cemitério. Certamente uma capela votiva, numa época de grandes epidemias, e que teve grande movimentação, haja visto que em 1930 aí se realizavam festas, como relatado nos jornais da época, indicando que a Várzea dos Almeidas era bem povoada.

Com a abertura do ramal ferroviário da Estrada de Ferro Central do Brasil, em vista da localidade oferecer ligação com Boa Vista (atual Pedro Teixeira) e Quilombo, atual (Bias Fortes), além de ser ponto de ligação com o sul (Santa Bárbara do Monte Verde e Rio Preto) decidiu-se ali construir uma estação, para carga e descarga de mercadorias e passageiros, na margem direita do rio, oposta à da antiga Fazenda do Manejo. Inaugurada em 1926, foi logo rodeada de casas de comércio, casas de Turma da E.F.C.B., casas de morada, ranchos de pouso, no povoado que passa a se chamar também Manejo, tal como o conhecemos hoje. A partir daí, a estrada de ferro passa a ser a referência e o nome Várzea dos Almeida cai no esquecimento. Mais tarde, sobre uma colina singular, situada no meio da Várzea, e próxima à estação, ergue-se uma capela dedicada à Nossa Senhora Aparecida, hoje templo principal do povoado, sendo a antiga capela de São Joaquim perdido sua importância, simbolizada na transferência de seu pequeno sino à nova capela.
Visita do ator Lima Duarte em 02-11-1976. Ainda se vê a antiga estação da EFCB.
Manejo situa-se à margem direita do Rio do Peixe, a nove quilômetros de Lima Duarte e a sete de Orvalho, pela BR 267.

A referência à Manejo da presença de inconfidentes em fazenda situada na região não tem base histórica, e se o tivesse teria sido alvo de denuncia por parte de José Ignácio de Siqueira, personagem que entrou para a História ao denunciar o Coronel José Aires Gomes e morador de Ibitipoca. Esse vivia de ensinar meninos a ler e percorria na intimidade as fazendas da região. Se houvesse inconfidentes ou colaboradores ou simpatizantes destes na região da Várzea dos Almeida, teria-os denunciado!

A outra referência diz respeito a acampamento de tropas comandadas pelo Duque de Caxias em 1842, no local! Também carece de base histórica! As tropas de Caxias, segundo roteiro documentado e publicado vieram de rio Preto pela Serra Negra, acamparam próximo ao Cemitério de Olaria e daí seguiram para a Vila do Rio do Peixe, acampando no Ribeirão de Santana. Não se tem notícia de acampamento na região hoje conhecida como Manejo, ainda que por aí, logicamente tenha que ter passado, pois era caminho.

As fotos foram compartilhadas de Raimundo P. Netto e Ronisch Baumgratz