Uma capela no alto da serra.
Chegar ao Pico do Pião, na Serra de Ibitipoca, traz agradáveis surpresas. Além do frescor dos ares e da vista que encanta, pode-se ver ali, em ruínas, um altar e um pavimento em pisos hidráulicos, restos do que foi um dia, uma bela capela.
O local, ainda hoje de difícil acesso, faz-nos pensar nos motivos que levariam pessoas a erguer um templo naquele local, ermo e solitário, batido pelos ventos, longe de tudo e mais ainda, por que teria sido abandonada, entrando em ruínas?
O projeto de se erguer uma da capela no Pião, surgiu nas primeiras décadas do século XX, quando a Serra Grande (nome regional dado à atual Serra de Ibitipoca), começa a ser pleiteada para sediar um hospital para tratamento de tuberculosos.
Até ali, a Serra Grande era considerada Patrimônio da Santa, ou terra da Igreja, utilizada como pasto e para extrativismo de capim para colchões, macelas e plantas medicinais, de uso comum de todos os ibitipocanos.
O Estado de Minas Gerais, em vista do empenho da Liga Mineira contra a Tuberculose, tratou de verificar a posse das terras, verificando a inexistência de documentação de posse por parte da Igreja, considerando-as terras devolutas, apesar de no senso comum, as terras integrarem o Patrimônio da Santa.
A solução encontrada pela Igreja foi garantir a posse das terras, dando-lhes uso. Em 15 de agosto de 1925, é celebrada no Pico do Pião a primeira missa, diante de um cruzeiro e altar improvisado. Surge dai a idéia de erguer um templo no local, como forma de garantir a posse das terras para a Igreja.
Francisco Borges de Medeiros e Gertrudes da Silveira Almeida |
Ao longo dos anos seguintes, a capela seria local de celebrações e afamadas festas, com leilões e barraquinhas, animadas por bandas de música de Bias Fortes, Santa Rita de Ibitipoca e Lima Duarte, reunindo devotos de toda o entorno da Serra Grande.
Seguindo em seu intento, o Governo do Estado de Minas Gerais acabou vencendo a disputa judicial, garantindo a posse das terras, reconhecidas como devolutas.
A capela perde então seu objetivo real, agravado com o falecimento de Padre Henrique em 07 de agosto de 1937, entrando em abandono e estado de degradação e ruína.
Em 1940, estando totalmente arruinada, líderes da comunidade de Mogol, providenciaram o desmonte do restante do telhado, porta e paredes, deixando apenas o piso hidráulico e o altar em alvenaria. Com os tijolos removidos, ergueram no povoado de Mogol, na praça em que se localiza a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, logo acima do coreto, uma pequena ermida, onde entronizaram a imagem do Bom Jesus, que ali permanece até os dias atuais.
Ruínas da capela no pico do Pião.
Com
a escolha de Campos do Jordão para a construção de uma grande
estância para tratamento de tuberculosos e a posterior invenção da
penicilina, a tuberculose é controlada. As terras da Serra Grande,
agora
do Estado
,
comporiam
mais tarde a Fazenda do Ibitipoca, núcleo originário do Parque
Estadual do Ibitipoca, inaugurado em 1973.
As ruínas, desde então servem de poleiros para fotos e selfies, um triste fim para um local de tanta fé, devoção e tantas festas.