sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Lima Duarte morre em dezembro

Lima Duarte morreu em dezembro


    Aos 3 de dezembro de 1896, aos 70 anos, falecia no Rio de Janeiro, José Rodrigues de Lima Duarte.     Em 20 de julho de 1889, meses antes da proclamação da República, ocorrida sete anos antes de seu falecimento, havia sido agraciado por Sua Majestade, Dom Pedro II, com o título de Visconde, com grandeza, passando a ser titulado com a honraria de “Visconde de Lima Duarte”.

    Com o advento da República, esteve durante algum tempo absolutamente retirado de cargos públicos. Em 1892 recebeu do governo de Minas Gerais a nomeação para Superintendente Geral do Serviço de Imigração, cargo que exerceu até falecer.

    A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ao terem notícia do seu passamento, por voto unânime, fizeram consignar nas atas respectivas, o profundo pesar com que receberam aquela triste notícia, prestando tributo à memória do distinto mineiro, tão respeitável pela honradez de caráter, como estimado pelos dotes do seu bondoso coração.

    Sobre sua morte assim se manifestou um colunista, no Minas Gerais, de 4 de dezembro de 1896: “No cemitério de São Francisco de Paula no Catumbi, Rio de Janeiro repousam os restos mortais do Conselheiro Lima Duarte.

Natural do estado de Minas Gerais, o Conselheiro Lima Duarte conseguiu pela sua qualidade e pelo desprendimento de bens materiais impôr-se à veneração de seus conterrâneos.

Médico, o doutor Lima Duarte levava tanto aos ricos como aos desafortunados a sua ciência, sem que de leve deixasse perceber o mais longe interesse. Daí o Doutor José Rodrigues ser na realidade, um dos mais prestigiosos chefes do partido Liberal, desde que se dedicou a política.

Deputado, ministro da Marinha, Senador, Conselheiro de Estado de Sua Magestade, essa influência nunca o empalideceu, por que não vinha de paixões, mas do reconhecimento baseado em interesses na mais pura amizade popular.

Na Câmara dos Deputados foi elevado a suprema posição de Presidente, tanto a se recomendar a pela sua circunspecção como por sua imparcialidade, pelo seu bom senso. Sendo adversário, nunca recorreu à violência; ao contrário sabia honrar o seu adversário, reconhecendo nele os méritos. Tendo o Visconde do Rio Branco, conservador, seu principal oponente, cometido o crime de batalhar em prol da aprovação da Lei do Ventre Livre, recebeu o ódio dos conservadores negreiros que se disciplinaram em ataques ferozes e desumanos ao Visconde do Rio Branco. Lima Duarte, sendo liberal, gelou as veias dos conservadores, ao declarar-se solidário com ele.

Era assim que o ilustre chefe Liberal fazia política.

Sofrendo forte oposição quando ocupou a chefia do Ministério da Marinha, o Conselheiro Lima. Duarte a venceu com serenidade, ao final ninguém ousando duvidar de tão puro caráter.

Lima Duarte comprometeu a sua fortuna em confiança a empregados, que abusaram dos seus cargos, reduzindo-o à pobreza. Apesar disso, não tinha uma queixa, quanto aos que abusaram de sua boa-fé. A República, deixo-o em situação financeira precária, e já velho, saiu a buscar trabalho no Rio de Janeiro. Como médico já não podia fazer a clínica penosa em seu estado, pois desde moço nunca teve o hábito de cobrar honorários pelo exercício de sua Sagrada profissão de médico.

Abandonou definitivamente a política, escolhendo não se opor de forma altiva à República, mantendo-se mais calmamente fiel ao seu passado monarquista.

Dircursando emocionado em suas exéquias, o Visconde de Ibituruna, bem resumiu em poucas palavras o caráter do falecido:

“Galgado às mais altas posições sociais, Lima Duarte, nunca deixou de ser o que sempre fora e o que é mais assombroso, também não conseguiram fazer com que mudasse”

Em tempos de política como simples exercício de paixão e de favorecimentos a aliados, que sua memória se mantenha viva entre nós, mantendo acesa a luz dos valores que sempre vivenciou: honradez, honestidade, caráter e zelo com a política.



domingo, 7 de novembro de 2021

O Paço da Câmara

 

Paço da Câmara Municipal


    O dia 11 de novembro, entra para a história da cidade de Lima Duarte com a triste ocorrência de um incêndio no prédio da Câmara Municipal. 

    A construção, situada na esquina entre as Ruas Antonio Carlos e Tancredo Alves, notabiliza-se por sua imponência e singularidade, distinguindo-se das demais por sua elegância e estilo.

    Conheçamos um pouco de sua história...

    A ereção de um prédio específico para o funcionamento da Câmara e Cadeia, e a de um prédio para sediar a escola de primeiras letras, fazia parte das exigências legais, determinadas pela Lei que regulava a criação dos municípios no Império, bem como a eleição dos primeiros vereadores.

    Os antigos líderes de nosso município, então apenas um distrito com o nome de Dores do Rio do Peixe, deram logo conta das exigências locais, erigindo no local um belo sobrado, erguido na rua principal da vila,  de linhas retas, telhado de quatro águas e beirais largos, coberto com telhas capa e canal, que eram amplamente usadas antes da chegada das telhas francesas.

    Nesse prédio foi instalada a nossa primeira Câmara de Vereadores em 29 de dezembro de 1884, passando depois a sediar a Intendência, a partir da Proclamação da República, em 1889.

    O velho sobrado, possuía aos fundos, no térreo, uma cela, onde funcionou a Cadeia Pública até o ano de 1899, quando foi inaugurado o prédio do Fórum e Cadeia (atual Prefeitura).

    Na década de 1930, são criadas as Prefeituras e a figura do Prefeito em todo o Brasil, passando o gabinete do prefeito e salas das repartições públicas a funcionarem no térreo do prédio da Câmara, até 1984, quando são transferidos para o prédio atual, na praça, antigo Fórum.

    Vivendo a cidade um surto de modernização nas décadas de 1920 e 1930, impulsionada pela chegada da ferrovia, foi remodelado o velho sobrado que sediava a Câmara e a Prefeitura. A construção ganhou o aspecto do estilo mais moderno que havia na época, o Art Déco, caracterizado pelo uso de platibandas, planos recuados na fachada, prevalência de linhas retas e escalonados, além de revestimento externo em pó de pedra.

    


O projeto do novo paço coube ao engenheiro e então Prefeito Municipal, Moacyr Duque Catão (MDC), cujas iniciais grafadas em ferro podem ser vistas encrustradas no nicho no alto da platibanda da fachada principal, tendo sido o novo Paço Municipal inaugurado em 31 de janeiro de 1937.

    O prédio foi palco de muitos eventos significativos de nossa história, recepcionando ilustres visitantes, acolhendo famosos bailes, formaturas e cerimônias.

    No hall de entrada merecem destaque a escada em madeira em estilo Art Déco e os pisos hidráulicos; no Salão Nobre, os lustres, a bancada da Mesa da Cãmara e a grade também em madeira no mesmo estilo do prédio. Há também o Livro que contém a Ata de Instalação do Município de Lima Duarte, com a assinatura dos primeiros sete vereadores e autoridades de Barbacena,  importante relíquia dos primeiros tempos da Câmara.

    Preservar esse prédio é manter viva uma parte de nossa História!


domingo, 3 de outubro de 2021

Poetas lima duartinos II

 

POETAS LIMA DUARTINOS II


YMAH THÉRES

    Imaculada Therezinha Miranda Ribeiro, conhecida literariamente como Ymah Théres, nasceu em 28 de julho de 1939,em Lima Duarte- MG., e faleceu no dia 12 de setembro de 2008, aos 69 anos em Juiz de Fora, cidade para onde emigrou ainda criança, com seus pais.

    


Seu pai, João leitor voraz e também poeta,muito influenciou sua escrita, e ela o dedicava muito amor e admiração.A poetisa tinha a saúde debilitada e sua produção poética fala de uma solidão sem limites. Formou-se Bacharel em Jornalismo pela antiga Faculdade de Filosofia e Letras - Fafile (UFJF). Apesar do formação de jornalista entrou para a História como uma grande poetisa. Era dona de uma poética rica e delicada.

    Aos 24 anos, ingressou na Câmara Municipal de Juiz de Fora, onde, por 28 anos, serviu como chefe e posteriormente, como Diretora da Seção de Expediente, aposentando-se em 1991.
    Durante mais de 30 anos, colaborou como articulista em inúmeros periódicos mineiros.

    JORNAIS COM OS QUAIS A POETISA COLABOROU:
1. GAZETA COMERCIAL- Juiz de Fora, MG.
2. JORNAL RODA VIVA ( Órgão das ex-alunas do Colégio Stella Matutina)- Juiz de Fora, MG.
3. FOLHA DA MANTIQUEIRA Juiz de Fora, MG.
4. DIÁRIO MERCANTIL - Juiz de Fora, MG.
5. O IMPARCIAL de Rio Pomba, MG.
6. CORREIO DO SUL - Varginha, MG.
7. TRIBUNA DE MINAS - Juiz de Fora, MG.
8. JORNAL DO POVO - Lima Duarte, MG.
9. JORNAL O LUME - Juiz de Fora, MG.
10. JORNAL VIVA A VIDA( de Cida Rigotti)- Juiz de Fora, MG.
11. BOTIJA PARDA de Araguari, MG.
12. SUPLEMENTO LITERÁRIO DE MINAS GERAIS - Belo Horizonte, MG.
13. VOZ DE SÃO JOÃO DE São João Nepomuceno - MG.

    Ymah Theres e
ra membro titular e fundadora da Academia Juizforana de Letras (1982). Teve seu talento reconhecido por meio de inúmeras premiações e menções honrosas recebidas em diversos concursos literários.

    SEUS LIVROS:

1973 - ELEGIAS. Juiz de Fora: Esdeva. (poemas)
1985 - ESCRÍNIO/ ASA DE BORBOLETA). Juiz de Fora: Cave. ( poemas em parceria com seu pai, poeta João Ribeiro de Oliveira
1986 - MUSGOS E GERÂNIOS Juiz de Fora: Esdeva. ( poemas em prosa e verso):
1987 - BIGODINHO, O GATO ENJEITADO. Juiz de Fora: Cave. ( infantil).
1988 - CANÇÔES DE CONVÉS OU DO AMOR PRESSAGO. Juiz de Fora: Gráfica e papelaria Gonçalves. (poemas).
1989 - HAICAIS. Juiz de Fora: Gráfica e Editora FORMIGA MARIA..
1991 - NA CONCHA DO OUVIDO. Juiz de Fora: Zas Gráfica e Editora. (prosa poética)
1992 - DIÁRIO ESPARSO DE MARIANA. Juiz de Fora: Zas Gráfica e Editora. (prosa Poética).
1992 - SOLO DE FLAUTA DOCE. Juiz de Fora: Edições de Minas. (poemas).
1992 - ACERVO DE CRISTAIS. Juiz de Fora: Edições de Minas. (contos e outros textos).
1992 - TREZE CARTAS DOS VENTOS DE AGOSTO). Juiz de Fora: Edições de Minas. (prosa poética).
- Dos arquivos do anjo dromedário.
1993 - ANJO, ALAÚDE ; PAIXÕES. Juiz de Fora:Edições de Minas .
1994 - FLOR e CIPRESTE: JOâO RIBEIRO DE OLIVEIRA. Juiz de Fora: Edições de Minas (Publicação / Póstuma de poemas do Pai da autora).
1994 - MENINA COM FLOR. Juiz de Fora: Edições de Minas. (poemas).
1998 - RAMILHETE E ALECRIM. Juiz de Fora. (editoração eletrônica: William F. Ruheno).
1999 - FLOR DE OUTONO. Juiz de Fora
2003 - ANELO DE LUA NOVA . Juiz de Fora: Funalfa.

    A Associação Caminho da Serra, na Beira Rio, em Lima Duarte é a guardiã de pertences e objetos pessoais de Imah Théres, doados após seus falecimento em 2009, por sue primo - irmão Alexandre de Miranda Delgado. Uma sala chamada Sala da Poesia, foi construída para resguardar esse acervo, aberta à visitação. Lá estão sua rica bilioteca(prova de sua erudição e bom gosto literário, suas fotografias e quadros pintados por amigos artistas. Um local para se reverenciar e louvar sua memória a poesia!

    Segue um de seus poemas, de que muito gosto...

ENIGMA


Desarmado, o coraçãoo
reborda a orla do poço,
que segue além do limite
do alcance amorfo da mão.
E
as coisas vãs se transformam,
se transmigram, se mitigam
no consumido silêncio
que redime esse sol-posto
das ventanias possessas.
É
o amor devagarinho
formando o ocaso do enredo
que folgou de brisa e invento
no eterno e puro brinquedo.
E
os anjos, com seus arminhos
de alaúdes afagados,
sorriem, leves, sorriem
mas fogem com suas asas
pra longe, prum outro lado.
S
em flor ou cor, sem perfume
de gerânio macerado
no inenarrável segredo
vencido, desvencilhado.

Ymah Théres
Juiz de Fora, 24 . 03. 99

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Poetas lima duartinos

 Poetas lima duartinos



Lima Duarte também tem seus poetas!

    Seres de alma elevada, que conseguem traduzir em palavras os amores a as dores do mundo, tecer versos sobre o palácio ou um barraco, a flor ou o estrume, a treva, ou o lume... Avivam a chama do desejo, abrandado no sentimento puro. E cantam sem pejo, da traição, o golpe duro...

    Trazem a lembrança dos dias de sol, a força das tempestade sombria, das luzes em arrebol ou da manhã fria...

   


    Em 
seu tempo, o maior poeta da terrinha foi Pedro Mendes da Paz, nascido em Sapucaia-RJ em 21/11/1878 que aqui chegou, com 22 anos, recém formado em Barbacena, no ano de 1900. Seus versos ilustraram jornais, sua oratória ecoou em dias solenes ou tristes. Orador oficial da cidade, era convidado a saudar visitantes e autoridades, o que fazia com maestria, seja em prosa ou verso.

    Muitos versos compôs, a maioria inédito, escondidos em cadernos, que pude ainda ver, com folhas amarelecidas pelo tempo. Muitos lima duartinos ganharam de presente, poesias suas, sonetos guardados ainda hoje com carinho. Faleceu em Juiz de Fora em 19/07/1940, sendo sepultado em Lima Duarte.

Segue um de seus inspirados sonetos:


O pior dos males


Que há pior que o temporal infando,

Que tudo estrue, derriba, arrasa, leva,

Pior que os vagalhões do mar na treva,

De encontro à rocha, as naus, esmigalhando?


Que há pior que o incêndio devastando,

Numa fúria infernal, medonha, seva,

Tudo o que encontra, num furor nefando,

Da choupana ao palácio que se eleva?


Que existe mais horrendo que a peste,

Do que a guerra feroz que ruge, investe,

Trazendo a fome, o luto, a mortandade?


Pior que o incêndio, a fome, a peste a guerra,

Pior que o inferno existe sobre a terra,

Pior que tudo – a torva falsidade.




    Outro que lhe faz par, é Oranice Franco, nascido em Lima Duarte aos 02 de novembro de 1919 e falecido em São João Del Rei em 02 de novembro de 1999. 

     Oranice, cujo apelido era Orana, foi mais conhecido como jornalista e locutor da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, onde às terças e quintas, às 17h30 minutos, apresentava o prestigiado programa “Histórias do Tio Janjão”, dedicado às crianças, além da famosa e esperada “Crônica da Cidade”. 

    Lançou vários livros de poesia, todos inspirados em Minas Gerais, como o Minha Rua de Minas, Mares de Minas e O Poço da Memória, dentre outros.        Produziu ainda contos, crônicas e radionovelas. De Oranice, trazemos:


Canção do Voltará


Esta flor que lhe dou

é do país de Minas Gerais.

Ponha-a junto ao peito

-ela tem muito de céu.


Este amor que lhe dou

é um amor de mil amores.

Ponha-o junto ao seio

-ele tem muito de flor.


Quando vier, estarei à espera.

Quando chegar, terei ido embora.

O apelo das serras é um imã

-pois tem muito de céu.

O encontro de hoje fica para amanhã

ou para depois, depois, depois.

O dia está lindo demais para encontros,

Vou passá-lo comigo mesmo.

Voltarei, um dia,

Com mais flores, o mesmo amor,

e virei, transfigurado, para ficar.

Teremos, então, muita coisa de céu.




segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Epidemias em Lima Duarte

 

Epidemias em Lima Duarte


    Desde tempos imemoriais, a humanidade convive com os surtos e epidenias, comunmente designadas como pestes. Muitas dessas doenças foram ao longo do tempo erradicadas, seja pela melhoria das condições de higiene e saneamento, quanto pelo esforço da medicina.

    Lima Duarte também registrou ao longo de sua existência diversas epidemias, a maior parte delas relativas à Gripe Espanhola em 1918, ou à Varíola, entre nós conhecida como “Bexiga”.

    Sobre a varíola, o jornal O Pharol de Juiz de Fora traz algumas informações a respeito de nossa cidade em 1904. Nesse ano, começaram a surgir na cidade de Juiz de Fora numerosos casos da doença.     A população, alarmada, solicitou providências às autoridades. Era Agente Executivo Municipal e Presidente da Câmara Municipal o Dr. Manoel Brito de Vieira Pinto, médico de profissão, que nomeou o farmacêutico Álvaro Rangel, Delegado Municipal de Higiene, dando-lhe autoridade para tomar as medidas que fossem necessárias para que a doença não atingisse a cidade.

    Este, tão logo pode, decretou o fechamento das fronteiras e o estabelecimento de quarentena. As medidas, editadas em 2 de setembro de 1904, foram divulgadas pelo jornal “O Pharol:

O farmacêutico Álvaro Rangel, delegado de Higiene Municipal, em comissão.

De ordem do exmo. sr. Dr, Agente Executivo Municipal faço público que, enquanto durar a epidemia d varíola em diversos pontos do município de Juiz de Fora, fica proibida a entrada neste município de pessoas, tropas e veículos vindos daquela, sem terem estado de observação durante 5 dias nos postos de passagem, onde foram estabelecidos cordões sanitários.

Lima Duarte, 2 de setembro de 1904.

O Delegado de Higiene municipal - Farmacêutico Alvaro Rangel


    O rigor e determinação do Delegado de Higiene não perdoou nem o Juiz de Direito da Comarca, Dr. Canuto Gonçalves Pereira de Sá Peixoto, conforme nota publicada no mesmo “O Pharol”, sete dias após a publicação das medidas:


O cordão sanitário de Lima Duarte está sendo posto em prática com extraordinária energia. A primeira vitima foi o juiz de direito da Comarca, o qual, tendo ido desta cidade, foi obrigado a purgar, com sua família, cinco dias de quarentena no luxuoso lazareto instalado pelo Agente Executivo, especialmente para aquela autoridade.

Como o lazareto se acha situado fora da Comarca, não pode o magistrado prisioneiro despachar o expediente de sua vara nem conceder a si mesmo uma ordem de auto habbeas corpus.

A higiene pública de Lima Duarte prefere ficar sem Justiça a correr o risco de ter justiça… com bexigas!


    Apesar do esforço das autoridades, tomando todas as medidas que julgaram cabíveis, a varíola seguiu fazendo muitas vítimas em todo o município. As vitimas eram sepultadas fora das povoações, em cemitérios que ficaram conhecidos como “Cemitérios dos Bexiguentos”, alguns deles ainda hoje existentes, testemunhando o sofrimento de tantos seres humanos.

    A varíola voltaria com força em outras ocasiões, deixando marcas profundas em muitas gerações. Em 14 de setembro de 1919, a Diretoria de Higiene do Estado recebeu telegrama de Lima Duarte, pedindo urgentemente vacinas antivariólicas. Foram enviados 150 tubos. Com o avanço da doença, o Dr. Luiz de Mello Brandão, inspetor de Higiene do Estado de Minas Gerais, recebeu ordens do Governo do Estado para proceder vacinação em todos os habitantes das circunvizinhanças de Lima Duarte.

    Documentar as epidemias, resgatar as estorias de dor e sofrimento de tantos lima duartinos e preservar os Cemitérios dos Bexiguentos é manter viva a nossa História.


quinta-feira, 1 de julho de 2021

A imprensa em Lima Duarte - o primeiro jornal

 

O Primeiro jornal de Lima Duarte


    Muitos periódicos surgiram ao longo de nossa história, alguns perdurando por décadas, outros com apenas algumas edições. Muitos certamente se lembram da “Tribuna de Lima Duarte”, de Paulo Modesto, com seu Olho Vivo e Pinga Fogo. Ou ainda, do pequeno “O Sabiá”, sempre aguardado.

    Distante de outras cidades e isolada em seu início de meios mais rápidos de comunicação, a cidade não dispunha de um periodico. Por isso, jornais de outras cidades eram por aqui aguardados com avidez, alguns viajando dias em lombo de burro, trazidos pelo Correio. 

Primeira Pagina de A Tribuna.
1904
Acervo Vicentina Salgado
E assim, os leitores de O Pharol, Jornal do Comércio, A Noite, dentre outros, aguardavam ansiosamente a chegada do malote, em busca das novidades.

    A primeira iniciativa de criar em Lima Duarte um jornal, coube a Alfredo Catão, que por volta de 1900, adquiriu uma impressora, trazida a Lima Duarte em carro de boi. Uma vez instalada no andar térreo do prédio da Câmara, Catão compôs e fez imprimir o primeiro jornal de que se tem conhecimento em Lima Duarte, chamado de “A Tribuna”.

    O valente jornal circulou por cerca de 10 anos, prestando bons serviços aos cidadãos de Lima Duarte. A pena de Catão, primorosa, antenava Lima Duarte com a civilização, elevando os corações e mentes aos deveres para com a Pátria, o Civismo, a Democracia e o Direito.

    Pelo jornal travou Catão a luta pela implantação do ensino médio na cidade, a defesa da ferrovia, a melhoria do sistema de abastecimento d’água, bem como a repercussão dos fatos da política nacional.

    Matérias desse periódico são encontradas no jornal O Pharol de Juiz de Fora, de que Alfredo Catão era correspondente. Uma delas anunciava em 1911: “...Vai ressurgir até o fim do corrente ano A Tribuna, valente orgam que se publicava em Lima Duarte, sob a competente direcção do Cel. Alfredo Catão. O confrade vira bater-se dessassombradamente pelos legítimo direitos civis, dando franco combate ao hermismo daninho. Aguardemol-o.”

    Apesar do anuncio de sua reabertura, A Tribuna acabou encerrando suas atividades. Surgiram logo muitas outras iniciativas, todas importantes na trajetória da nossa imprensa.


quinta-feira, 6 de maio de 2021

Os primeiros vereadores - Manoel Victório Nardy

Emancipado do município de Barbacena em 03 de outubro de 1881, o município de Rio do Peixe (atual Lima Duarte) não foi instalado em ato contínuo, como determinava a lei. A instalação foi postergada pelas autoridades de Barbacena, que alegavam vários motivos para não efetuá-la, ainda que a povoação já tivesse cumprido todas as exigências previstas em lei, como dispor de prédio para escola de primeiras letras e prédio para as instalações da Câmara. Somente em 1884, quase quatro anos depois, sob pressão da população da Vila do Rio do Peixe e Assembléia Provincial, as autoridades de Barbacena determinaram a realização de eleições em todo o distrito, de modo a que se elegessem os primeiros vereadores, um deles, sendo o Agente Executivo do novo município. O voto, naquela época era censitário, podendo votar e ser votados apenas cidadãos que tivessem renda mínima estabelecida por lei.
Em 07 de setembro de 1884, foi eleita a primeira Câmara de Vereadores do Município de Rio do Peixe, a ultima das exigências legais para a instalação do município. Era composta de sete "homens bons"os quais tomaram posse no dia 29 de dezembro do mesmo ano, na presença do Presidente da Câmara e Agente Executivo de Barbacena, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada.

Um destes eleitos era Manoel Victório Nardy, conhecido proprietário de terras da região de São Domingos da Bocaina e adjacências. Dono de grandes extensões de terra na região, suas propriedades rurais se estendessem pelas terras dos atuais municipios de Lima Duarte, Olaria, Rio Preto e Bom Jardim, possibilitando sua candidatura e eleição em quaisquer desses distritos eleitorais.

Enterro de Manoel Victorio Nardy.
Manoel Victório Nardy nasceu em São Sebastião - SP, aos 28 de Novembro de 1845, filho de João Victorio Nardy, francês da cidade de Lyon e de Dona Rita de Jesus Nardy, natural de São Sebastião- SP. Em 1867, aos 22 anos de idade, veio para Minas Gerais, radicando-se na região de São Domingos da Bocaina, onde se casou com Dona Francisca Cândida de Paula, a qual adotou seu sobrenome. Dessa união, tiveram os seguintes filhos:
Domício de Paula Nardy. nascido aos 7 de fevereiro de 1885, ordenado padre e Vigário Geral da Arquidiocese de Mariana e posteriormente Monsenhor e Vigário Geral da Diocese de Juiz de Fora, cidade onde faleceu a 30 de Maio de 1940 aos 55 anos.
Rita Nardy
Aristeu Victório Nardy
Domingos Victório Nardy
Faleceu em Bom Jardim em 1º de Novembro de 1914, vítima de aguda e implacável bronquite.


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