sexta-feira, 10 de junho de 2022

O deputado do trem

Francisco Valadares, o deputado do trem.


Desde 1873 cogitava-se da implantação de um ramal ferroviário em terras lima duartinas. Porém, somente em 1911, teria início a construção efetiva do ramal, sendo inauguradas em 1914, as duas primeiras estações do trajeto, Penido e Igrejinha.

As constantes paralisações das obras, motivadas por pressões contrárias por parte dos políticos paulistas e fluminenses, bem como de cidades vizinhas, fizeram surgir na imprensa e no próprio meio político, muitos defensores dos interesses dos lima duartinos e dos mineiros.

Dentre eles, destaca-se Francisco Valadares.


Francisco de Campos Valadares,
nasceu aos 24 de abril de….. em Pitangui (MG), filho de Benedito Cordeiro de Campos Valadares e de Maria Luísa Valadares, sendo bisneto de Dona Joaquina do Pompéu, célebre líder política do interior do estado de Minas Gerais.

Bacharel de Direito, exerceu por longos anos a advocacia, exercendo também a função de Promotor de Justiça em Juiz de Fora e Rio Pomba. Casou-se aos 07 de janeiro de 1901 com Constança Vidal Barbosa Lage Valadares (Constança Valadares) e não teve descendência. Em Juiz de Fora, participou ativamente da vida da sociedade, tornando-se diretor-gerente do Clube Juiz de Fora, conselheiro da Santa Casa de Misericórdia, redator chefe do Jornal do Comércio, presidente da Academia de Comércio e do Clube de Esgrima, Tiro e Ginástica. Também nessa cidade participou da Companhia Central de Diversões, primeiro passo para a construção do Cine-Teatro Central, já que era de sua responsabilidade recolher verbas que seriam repassadas à Companhia Pantaleone Arcuri, incumbida da construção do prédio.

Seguindo a tradição de sua família e atendendo a pedido dos cidadãos, ingressou na política sendo eleito deputado estadual em 1903, permanecendo até 1912, quando é eleito deputado federal por Minas Gerais. Por sua atuação forte e perseverante em prol dos projetos relacionados a Juiz de Fora e região da Zona da Mata, foi reeleito para as quatro legislaturas seguintes, permanecendo como Deputado Federal por Minas Gerais até outubro de 1930, quando a Revolução comandada por Getúlio Vargas extinguiu todos os órgãos legislativos do país.

Assumindo seu primeiro mandato em 1912, tomou a si a defesa da continuação das obras do Ramal de Lima Duarte, paralisadas desde 1914 em Penido. Já no final do ano, consegue a consignação de verbas no Orçamento da União, que ainda assim permaneceriam paralisadas, sendo retomadas efetivamente apenas em 1921.

Seguiu combativo e assíduo à tribuna da Câmara Federal, onde discursou reiteradas vezes em favor da continuidade das obras, promovendo o debate em torno da importância da obra para Minas Gerais e o Brasil.

Na Imprensa, assinou vários artigos e concedeu muitas entrevistas sobre o ramal de Lima Duarte, esclarecendo dúvidas e demonstrando, reiteradas vezes, a importância da obra para a Zona da Mata, Minas Gerais e o Brasil.


Resultado da luta do deputado Francisco Valadares, a ferrovia avança as obras e em 1923 as pontas dos trilhos atingem a localidade de Várzea do Carmo, atual Valadares, município de Juiz de Fora.

A inauguração da estação, ali erguida em terrenos doado pelo Coronel Camilo Guedes de Morais e às suas expensas, é realizada em 1º de Maio de 1924, recebendo o nome oficial de Engenheiro Navarro, que alguns dias depois, em 23 de maio do mesmo mês, é transferido para uma das estações recentemente inauguradas no ramal de Montes Claros. Com isso, a estação volta a ser designada como Várzea do Carmo, até que em agosto de 1924, uma portaria do Ministro da Viação determinou que fosse denominada oficialmente de Valadares, em homenagem ao deputado Francisco Valadares.

Ao saber da homenagem o deputado Francisco Valadares telegrafou imediatamente ao Ministro Francisco Sá, em 08 de agosto agradecendo a homenagem e consideração, mas solicitando que este desse à estação o nome de Camilo Guedes, como havia sugerido ao Ministro, já que este era o desejo da população e o mais justo, uma vez que o coronel era líder inconteste e total merecedor da homenagem.

Respondendo ao telegrama o Ministro Francisco Sá considerou que embora merecida a homenagem ao Coronel Camilo Guedes, considerava seu o direito de perpetuar na estação ora inaugurada o esforço infatigável do deputado Valadares como representante da região, de cujo esforço, pela realização daquele e outros melhoramentos que reclama, ninguém, melhor do que ele, podia dar sincero testemunho.

A Câmara Municipal de Lima Duarte também havia de manifestado a favor da homenagem ao deputado Valadares, manifestando assim seu agradecimento pelo empenho e dedicação pela continuidade das obras da ferrovia.

Assim a estação da localidade de Várzea do Carmo passou a ser denominada Valadares, nome este que passou a designar a povoação que se formou em redor da estação e que se desenvolveu, atualmente sede de distrito do município de Juiz de Fora, situada às margens da BR 267, entre Orvalho e Penido.

A atuaçao do deputado Valadares seguiu forte e incisiva, garantindo recursos que permitiram a tão sonhada chegada da primeira locomotiva à cidade de Lima Duarte em 08 de dezembro de 1925.

A pequenina estação ai inaugurada alguns meses depois, em 1º de março de 1926, foi chamada Parada Matosinhos, sendo depois oficialmente denominada Parada de Lima Duarte e estação Diocleciano Vasconcelos.

A rua que dá acesso à Paradinha recebeu a denominação de Rua Francisco Valadares, que conserva até então.

Uma justa homenagem a quem tanto fez pela implantação da nossa ferrovia.

Francisco Valadares faleceu em Juiz de Fora em 14 de novembro de 1933.


sexta-feira, 3 de junho de 2022

Praça JK

 

Praça de baixo: de circos e touradas a JK….


O povoado do Rio do Peixe desenvolveu-se inicialmente no entorno da atual Praça da Matriz, aproveitando as terras mais secas, apropriadas para a construção das casas de taipa. Os velhos caminhos que ligavam fazendas, aí se encontravam, gerando um “largo”, atual Praça Nominato Duque.

Neste largo, mais tarde denominado Largo da Liberdade, prevaleciam os eventos religiosos, as “festas da Santa” erguendo ranchos e barracas para leilões, venda de comidas e bebidas e apresentações de bandas e conjuntos musicais.

O caminho que levava às terras dos Delgado gerou a atual Rua Antonio Carlos, principal artéria da cidade. Ali se concentraram as moradias dos ilustres, o comércio, e as repartições públicas e administrativas, advindas com a elevação do povoado à vila e sede de municipio.

O Rossio, ainda sem a praça
1910. Acervo Afranio de Paula

A Câmara Municipal, seguindo a tradição herdada de Portugal, logo fez a aquisição de um terreno de grandes dimensões, no lado direito da rua principal, na época batizada de Rua General Osório (atual Antonio Carlos,) um pouco abaixo do Prédio da Câmara. gerando o Rossio, terreno público, fruído em comum, pelos habitantes da povoação.

Neste terreno aplainado e guarnecido de valas laterais de drenagem, eram realizados os festejos públicos, erguidos os circos, arenas de touradas e parques de diversões. Fotos antigas registram o terreno com uma dessas estruturas montadas.

Em 1886, é erguida num dos lados do Rossio a Igreja do Rosário. Em 1899, o Rossio perde espaço para o prédio do Fórum e Cadeia (atual Prefeitura), mantendo-se ainda o restante, entre a Igreja do Rosário e o Fórum, como terreno plano e descampado.


O Rossio por volta de 1930


Somente em 1930 a área seria transformada em praça ajardinada, com canteiros artisticamente construídos, plantio de árvores e arbustos artisticamente podados. Um piso de saibro, sempre mantido bem varrido, permitia a circulação entre os canteiros. Este jardim recebeu elogios de muitos que chegavam à cidade, por seu bonito aspecto.

A praça, conhecida pelo povo como Praça do Rosário, recebeu oficialmente o nome de Praca Paiva Duque, uma homenagem ao Dr. Nominato de Paiva Duque, tendo em 17 de abril de 1932, sido nela inaugurado pelo Prefeito Alfredo Catão, um sistema de iluminação com energia elétrica.

Em 1937, Lima Duarte recebeu a visita do Governador do Estado de Minas Gerais, que veio inaugurar o início das obras da estrada de carro para Bom Jardim de Minas. A Prefeitura, aproveitando o ensejo, presta-lhe homenagem e a praça passou a ser denominada

A praça em 1945
Praça Governador Benedito Valadares.

Em 20 de novembro de 1948, por força da lei nº 39, passou a ser denominada Praça Virgílio de Melo Franco, denominação que permaneceu até 11 de maio de 1951, quando voltou a ser denominada Praça Paiva Duque, por determinação da Lei nº 109, de 11 de maio de 1951, nome que parece não ter “pegado”, haja visto que seguiu denominada Virgilio de Melo Franco...

No final da década de 1960, a praça perde mais um pouco de sua área, ao ser erguido ao lado da Igreja do Rosário o atual prédio do Fórum. Paralelo a isso, é feita uma remodelação da praça, com corte de árvores e eliminação de canteiros. Ao centro, de uma grande área retangular com piso de lajes de concreto, foi erguido um monumento em concreto, com as iniciais “LD” revestidas em pastilhas cerâmicas, dentro de um corpo d’água circular, mais tarde preenchido com areia. Pela Lei nº 535, de 16 de novembro de 1976, a Praça Virgílio de Melo Franco passou a ser denominada Praça Juscelino Kubistcheck, nome que permanece até os dias atuais.

A praça assim permaneceu até 1984, quando em nova reforma, demoliu-se o “LD”. A informação divulgada na época, dizia que, no local intencionava-se erguer um coreto, nada se concretizando porém. Por essa época ganhou um busto de Juscelino Kubistcheck.

Uma última reforma foi verificada nos primeiros anos do novo século, quando a Praça ganhou a forma que hoje apresenta, com um relógio de sol no centro, logo alvo de vandalismo e nunca mais refeito.

No casario ao redor da praça funcionaram ao longo do tempo os Correios, o Parque Azul, local de grandes eventos musiciais e artísticos, a Rodoviária da cidade, o Posto de Gasolina do Sr. Dalmácio... Num de seus lados, num ponto estratégico, buscando segurança em tempos sombrios, está a Igreja Metodista, primeiro templo não católico da cidade.

A “Praça de Baixo”, segue hoje sua sina, animada pelo Bar Alternativa, consagrado point da cidade!