domingo, 5 de abril de 2020

O Cemitério de Lima Duarte

Cemitério de Lima Duarte


    A origem do cemitério da cidade de Lima Duarte está ligada à da antiga ermida de Nossa Senhora das Dores do Sertão do Rio do Peixe, desde seu início, capela filial da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Barbacena.
    Nestor MASSENA, em sua obra A Igreja em Barbacena, página 81, relata que a capela de Nossa Senhora das Dores do Rio do Peixe foi erguida em 1808, sendo distante "dezessete léguas da Matriz", o que perfaz 102 quilômetros. A se julgar por essa distância, é lícito supor que a primitiva capela fosse dotada do básico para a cura d'almas. Nisso incluem-se a pia batismal, vasos para a guarda dos  Santos Òleos, Sacrário fixo e inamovível e o cemitério, seja em campas ou no adro. 
    A decência do culto era mantida pelas irmandades, compostas por destacados aplicados da capela. Em 1809, João Pedro Fortes de Bustamante de Sá, proprietário da Fazenda do Engenho Novo da Conceição do Salto, deixou em testamento, "para as Obras da Irmandade da Senhora das Dores do Rio do Peixe, da mesma Aplicação de Ebitipoca, a quantia de seis mil réis, a serem entregues na sobredita por seu testamenteiro. A doação indica a existência da Irmandade e sua fábrica, responsável pelo patrimônio, paramentos e alfaias.
    Por essa época, os sepultamentos eram feitos em duas modalidades: em campas, aberturas situadas no assoalho das capelas, destinadas aos membros das irmandades, membros do clero e cidadãos de maior linhagem e prestígio,  e nos adros,  áreas planas cercadas ao redor dos templos, destinados aos cidadãos livres de menor poder aquisitivo e escravos. Ao longo do século XIX, a pressão das autoridades civis fará aos poucos cessar o costume de se sepultar dentro dos templos e os cemitérios acabam por se  desenvolver nos adros, na maioria dos lugares.
    Assim foi na capela das Dores do Rio do Peixe, que acabou por desenvolver seu cemitério no adro, circundando o velho templo de estrutura em madeira, que seguindo o desenvolvimento da localidade, vai sendo remodelado, ornamentado e provisionado. 
    Em 1831, a capela é levada à sede de Curato, passando a ter seu capelão e Livros de Registros de Sacramentos e Tombo. A povoação torna-se Distrito de Paz em 1839. E   m 27 de junho de 1859 a Capela é elevada à categoria de Igreja Matriz, sediando a Freguesia de Nossa Senhora das Dores do Rio do Peixe. Em 1881, o distrito é emancipado de Barbacena, com o nome de Rio do Peixe. Essa evolução é acompanhada pelo pequeno templo, já incapaz de acolher tantos fiéis e indigno de uma sede municipal , pelo que buscou-se sua reforma e ampliação.
    Por essa época era Pároco o Padre Pedro Nogueira da Silva, que em 1883 reuniu os fiéis para deliberar sobre a reforma ou ampliação do templo. Estes optaram pelo desaterro do adro e ampliação da igreja. Para que isso fosse feito, fez-se necessaria a transferência do Cemitério para outro local. O Tenente Coronel João de Deus Duque faz então a doação do terreno, que era um pasto, situado atrás da matriz, numa encosta. Padre Pedro, solicitou então à Cúria em Mariana a autorização para construção do novo cemitério. 
    Em 21 de Junho de 1883, o Bispo de Mariana, Dom Antônio Maria Corrêa de Sá e Benevides, concedeu licença para a edificação do novo cemitério do Rio do Peixe. A provisão, minuciosa nos detalhes, determinava como condições para a obra: "...deverá ser bem cercado, ter porta e chave e defendido para não serem profanadas as sepulturas... No centro levantar-se-á uma cruz que aos vivos indique ali estarem sepultados os que nos precederam no sinal da Fé... No interior do cemitério, de um lado, se deixará sem benção, espaço bem discriminado para os que não a tiverem em sagrado..." 
    Aos 21 de Janeiro de 1884, era solenemente bento e inaugurado o novo cemitério de Lima Duarte. Da cerimônia, foi lavrado pelo Padre Pedro Nogueira, um Termo de Benção, que assim ficou registrado no Livro de Tombo: "Aos vinte e um dias do mês de janeiro de 1884, depois de visitar o cemitério novamente construído nessa freguesia, achando-o conforme as Leis da Igreja, tapado com muro de pedra e decente, o BENZI, deixando para o lado do fundo do mesmo, um canto sem benção, sendo este bem separado do cemitério dos católicos. E para constar, lavrei este termo que assino. Rio do Peixe, 21 de janeiro de 1884. O Vigário Padre Pedro Nogueira da Silva. No mesmo dia foi benta no cemitério a Capelinha de São José, a qual foi dotada de um sino de finados e recebeu em campa situada em seu presbitério, os restos mortais do primeiro vigário, padre Joaquim da Silva Maia, falecido em 1875
    Com as obras do cemitério e transladação dos restos mortais dos ali sepultados, foi possível demolir a velha Matriz, desaterrar e aplainar o terreno, sendo o novo templo erguido em alvenaria de tijolos aparentes, sob o comando de Luiz Klotz e inaugurado em 20 de junho de 1891. 
    O cemitério, atendendo à demanda por mais espaço, foi ampliado mais tarde para a frente, descendo a ladeira, ( a parte mais íngreme da sua rampa central de acesso, com restos do antigo muro de arrimo e muros). Cresceu também em direção à Rua Antônio Duque Filho, depois até a margem da BR 267 e ultimamente em direção aos fundos da Rua Souza Paula, de acesso ao centro Esportivo Lincoln Moreira Duque.
    Guarda ainda no gradio da entrada de acesso, no lado esquerdo de quem entra, o portão lateral por onde entravam os ferétros dos pagãos, ateus e suicidas. Com o fim da proibição de se sepultar no mesmo cemitério católicos e não católicos, a soleira foi preenchida com tijolos e o portão chumbado, ficando apenas o portão principal. Na parte reservada aos não católicos estão túmulos como o de Dona Raquel Viana da paz Fortuna e outros metodistas históricos, além de espiritas conhecidos e ateus confessos.
    A capelinha de São José sofreu reforma em 1968, tomando a aparência que hoje possui em estrutura mista em concreto armado e tijolos. Guarda atrás do altar, sob lápides de mármore, os restos mortais do Vigário Joaquim da Silva Maia e do Padre Henrique Guilherme da Silva. Seu sino, segundo a tradição oral, foi enviado à capela de Santa Teresinha. Da imagem de São José não se registrou o paradeiro.
    Cemitério canônico desde sua origem, adminisitrado pela Paróquia de Nossa Senhora das Dores de Lima Duarte, foi transferido à Administração Municipal em 1988, por determinação da Mitra Arquidiocesana de Juiz de Fora, sendo pároco o Padre Elpídio José Barbosa.
    Foram zeladores, dentre outros, Manoel Joaquim Rodrigues (Quinzola), Diomedes Guimarães, Vicente Nunes (Vica), Jacy Manoel da Silva. Coveiros: Vicente Correa de Oliveira e Tião Serrinha,