quinta-feira, 7 de abril de 2022

Passos Públicos

Os Passos Públicos em Lima Duarte



    A Semana Santa passou. Depois de dois anos, por conta das restrições impostas pelas autoridades na pandemia de coronavírus, voltou a ser celebrada com atos externos, abertos aos fiéis e ao público.

    O ponto forte dessa semana é a recordação da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da celebração in memorian, dos fatos ocorridos no ano 33 d.C. em Jerusalém, culminando com sua morte na cruz e ressurreição, tal como relatado nas Sagradas Escrituras.

    De novo, pudemos ver as belas procissões nas cidades ditas errôneamente “históricas”, recheadas de velhas tradições e devoções, com seu aparato de imagens em andores artisticamente ornamentados, irmandades e ordens decentemente vestidas, lanternas, cruzes processionais reluzentes e as tradicionais vias sacras públicas, celebradas nos “Passos”.

    O costume de relembrar os “Passos de Jesus” veio para a Europa com os cruzados e peregrinos, que retornando da Terra Santa, copiaram em suas povoações a Via Sacra de Jerusalém, a partir do século X.

    Da Europa, foram trazidos à América, por portugueses e espanhóis.

    Inicialmente marcadas apenas com uma cruz, as estações, ou paradas de oração, evoluíram para oratórios, altares e finalmente capelas, erguidas nas ruas tronco ou principais das antigas povoações pelas Irmandade dos Passos, formada por homens que promoviam e financiavam as construções, além de zelarem pelas imagens, paramentos, lanternas, cruzes, andores e todo o aparato de alfaias, utilizados nas celebrações dos Passos.

    Nas povoações maiores, antigas vilas-sede de município, as Capelas ou Passos, figuravam em número de cinco, tendo em vista que o primeiro e o último passo da série obrigatória de sete passos, eram montados na igreja que iniciava o cortejo da procissão, geralmente na Matriz, as vezes indo de uma Matriz à outra Matriz, caso de Ouro Preto, ou da matriz a uma capela de maior importância, caso de Mariana e outras vilas.

    Você sabia que Lima Duarte também já teve Passos?

    Segundo Alexandre Miranda Delgado, a Irmandade dos Passos da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, foi ereta canonicamente por volta de 1890, ainda no Paroquiato do Padre Pedro Nogueira da Silva, que aqui exerceu a função de vigário de 1881 a 1906.

    A elevação da vila do Rio do Peixe a sede de município, em 1881, trouxe uma necessidade de modernização, manifestada no alinhamento de ruas, abastecimento d’água, iluminação pública com lampiões de carbureto, construção do Casarão da Câmara e Cadeia e Fórum.

       Na parte que concerne à Igreja, foram construídos o cemitério canônico e a Igreja do Rosário e demolida a velha Matriz, sendo erguida uma nova, ampla e bela, com aquisição de novas imagens, alfaias e paramentos.

    Nesse contexto, surgem também os passos públicos, para maior decência das procissões da Semana Santa, como se fazia nas outras cidades do estado.

    Consultando os livros da Irmandade que existiam na paróquia, o historiador observou que seus integrantes eram fazendeiros, servidores públicos federais, estaduais e municipais e comerciantes, todos ativos participantes da vida da paróquia.

    Essa irmandade promoveu a construção dos Passos na Rua Quinze de Novembro e Praça da Liberdade e adquiriu a bela imagem do Nosso Senhor dos Passos, que ocupava um dos retábulos da antiga Matriz de 1891, providenciando também a imagem do Senhor Morto, que junto com a imagem da Senhora das Dores, compunham o elenco mínimo necessário de imagens para os atos público da Semana Santa.

O Passo, visto no canto inferior direito


    Dos “Passos” públicos da Rua Quinze, atual Antonio Carlos, apenas de um temos foto. Situava-se onde hoje esta a Galeria Paula Guedes, entre a Associação Atlética e a Leiteria Central, e sobreviveu pelo menos até a década de 1960, quando ocorre uma “modernização” das construções no centro da cidade.

    Seguimos na pesquisa para identificar a localização dos outros passos.

Vista do Passo à esquerda, entre os dois sobrados.
Acervo E.E.P.D
    A Irmandade dos Passos, que tantos serviços prestou, não existia nas relações de associações religiosas da década de 1950, tendo possivelmente sido extinta anteriormente, fato sobre o qual seguimos em pesquisas.

    Os Passos, perdendo sua função, caíram em desuso, sendo demolidos um a um, empobrecendo o aparato das celebrações públicas de fé, que hoje admiramos em outras cidades.

    E você? Se lembra ou sabe da localização de outros passos?

    Interaja conosco e vamos reavivando a memória de nossa querida Lima Duarte, ajudando-a a reencontrar seus passos.